A Planta Anti-Alcoolismo

por Lucas Maia

Conhecida popularmente como árvore de uva-passa japonesa, a planta Hovenia dulcis é nativa da Ásia Oriental, região onde tem um vasto histórico de uso na medicina tradicional, especialmente para curar a ressaca. Estudos recentes comprovam os efeitos anti-álcool da planta e apontam-na como um novo candidato terapêutico para o tratamento do alcoolismo.

A Hovenia dulcis (Rhamnaceae) é nativa da Ásia Oriental e ocorre predominantemente no Japão, Coréia, e China Oriental até o Himalaia. Trata-se de uma árvore de grande porte que cresce até 10 metros, com folhas grandes e ovaladas, flores hermafroditas e pedúnculos carnosos e doces. Estes pedúnculos (foto) contêm um gosto que lembra uma combinação de uva-passa, cravo, canela e açúcar. No Brasil, é conhecida popularmente como uva-do-japão, banana-do-japão, cajueiro-japonês, gomari, chico-magro, pé-de-galinha, entre outros; sendo muito empregada, inclusive, para arborização urbana.

A planta tem sido utilizada na medicina tradicional chinesa há séculos, principalmente para o tratamento de doenças do fígado e para a desintoxicação após consumo excessivo de álcool (etanol). De fato, estudos recentes realizados em animais de laboratório têm confirmado estes efeitos. Pesquisas utilizando diferentes tipos de extratos da planta (ex.: aquoso, alcoólico, metanólico) comprovaram o seu efeito hepatoprotetor, por meio da atenuação de alterações bioquímicas induzidas pelo consumo crônico de álcool, como a atividade irregular de enzimas hepáticas1. Também se verificou a capacidade da planta de reduzir a concentração de álcool no sangue, além de propriedades antioxidante, antimicrobiana e antidiabética2.

Contudo, o estudo mais promissor foi conduzido na Universidade da Califórnia (EUA) e demonstrou que um flavonoide extraído da Hovenia dulcis – a dihidromiricetina – diminui os efeitos do álcool em ratos, por inibir a ação do mesmo sobre os receptores cerebrais GABAA3.

A ativação dos receptores GABAA é o principal mecanismo de ação do álcool. Ao inibir a ligação do etanol a estes receptores, a dihidromiricetina age contra a intoxicação alcoólica aguda, bem como os sintomas de abstinência em ratos, incluindo tolerância, ansiedade e convulsões. Além disso, outro resultado notável foi a redução voluntária no consumo de álcool pelos animais.

Segundo os autores do estudo, o próximo passo será avaliar os efeitos da dihidromiricetina em humanos. Se os resultados forem replicados, a substância pode vir a se tornar uma nova ferramenta farmacológica para o tratamento da dependência do álcool.

Referências

1. Xiang et al (2012). Effect of juice and fermented vinegar from Hovenia dulcis peduncles on chronically alcohol-induced liver damage in mice. Food & Function 3(6):628-634.

2. Hyun et al (2010). Hovenia dulcis – an Asian traditional herb. Planta Medica 76(10):943-949.

3. Shen Y et al (2012). Dihydromyricetin as a novel anti-alcohol intoxication medication. Journal of Neuroscience 32(1):390-401.

4. “Planta medicinal é nova esperança no combate ao alcoolismo” – Diário da Saúde (diariodasaude.com.br) – 10/01/2012.


Lucas Maia
 é biólogo, mestre em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).

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Sobre Coletivo Curare

Somos um coletivo multidisciplinar de pesquisadores, nas áreas de biologia, naturologia, farmácia e agronomia, com a missão de difundir o conhecimento científico sobre as plantas medicinais, tóxicas e outros produtos naturais.

13 Respostas para “A Planta Anti-Alcoolismo”

  1. Daniela Girotto diz :

    Não conhecia… achei muito interessante, vocês sabem se essa planta pode ser encontrada no Brasil?

  2. Julino diz :

    Achei o texto muito interessante, mostra a diversidade de usos para plantas utilizadas tradicionalmente.

  3. Coletivo Curare diz :

    Olá Daniela! Obrigado pelo contato. Pode sim. Em São Paulo, por exemplo, ela pode ser facilmente encontrada nos parques da cidade; além de espécimes espalhadas pelas ruas da capital.

  4. vera diz :

    pode-se usar a folha em forma de cha?:

  5. Arthur Melo diz :

    Parabéns pelo texto … irmão!
    Sucesso ae

  6. Coletivo Curare diz :

    Cara Vera, os estudos que verificaram os efeitos que relatamos neste texto utilizaram exclusivamente os pedúnculos da planta. Entretanto, todos estes estudos foram realizados em roedores (ratos e camundongos) e não existem estudos em humanos até o momento. Sendo assim, não recomendamos e nem incentivamos o uso desta planta para qualquer finalidade, uma vez que não sabemos se poderão haver efeitos tóxicos que comprometam a sua segurança. Abraços

  7. Coletivo Curare diz :

    Vale lembrar que o tratamento da dependência do álcool vai além do uso de medicamentos e envolve múltiplos fatores biopsicosociais…

  8. marlene l lima diz :

    eu acho que falta insentivo para acabar com os vicios em geral,pois nao se interesa pela cura de algo que esta dando lucro para muita gente, e uma vergonha para toda a humanidade o decaso, pois e triste ver familia sofrendo com os vicios e onde se descobre tantas curas e impossivel nao ter algo pelo menos para se tirar ou diminuir a vontade de consumir o vicio, um remedio que seja de facil acesso por todos e logico que é necessario o medico autorizar com uma receita obviamente eu me sinto envergonhada diante desta situaçao.

  9. wiliers@terra.com.br diz :

    boa dia a todos, esta planta a hovenia dulcis , pode ser usado as folhas, mas a maior quantidade de principio ativo esta na semente que encotra-se junto com o fruto, consumir o fruto fresco na forma de suco ou seco na forma de cha, as folhas tem que secar a sombra antes de fazer o cha

  10. Azelia Anacleto diz :

    Tenho um filho alcoolatra como usar essa planta pe de galinha tenho ela perto de casa.

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